quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Ensino Especial

Mais de 100 mil alunos com necessidades especiais estão sem qualquer apoio pedagógico, situação que em muitos casos se transforma em "graves problemas de insucesso escolar", de acordo com o professor catedrático da Universidade do Minho, Miranda Correia.
O Coordenador da Área de Educação Especial da Universidade do Minho chega a este número baseando-se no facto de não existirem estudos efectivos do número de crianças com necessidades especiais e de o Ministério da Educação apresentar uma estimativa "muito abaixo de qualquer estudo internacional". Para o ME, as crianças com necessidades especiais "rondam os 1,8 por cento, "um número totalmente abaixo de qualquer estudo internacional", afirma Miranda Correia que defende situarem-se entre os oito e os 12 por cento os alunos que têm dificuldades de aprendizagem específicas.

Para o especialista, aquela diferença representa que mais de 100 mil alunos estejam fora das contabilidades e apoios do Ministério: "Entre 100 a 150 mil alunos com necessidades educativas especiais estão sem apoio, sendo que metade diz respeito a dificuldades de aprendizagem específica, como a dislexia", disse à Lusa o professor catedrático da Universidade do Minho, Miranda Correia, alertando para o perigo de estas situações acarretarem "graves problemas de insucesso escolar".

Além desta contabilidade diferenciada, as organizações que trabalham com crianças com necessidades educativas especiais criticaram esta semana o financiamento atribuído pelo ME, considerando mesmo que a "falta de verbas" poderá pôr em causa os apoios prestados aos alunos.

Com a reforma da educação especial, que prevê a integração de todas as crianças com deficiência no ensino regular até 2013, as escolas especializadas estão a transformar-se em centros de recursos, tendo apresentado este ano, pela primeira vez, projectos de apoio educativo que vão ser desenvolvidos em parceria com os estabelecimentos de ensino regulares.

A ex-professora Rosa Guimarães, da Associação Nacional de Deficientes, lembra casos concretos de crianças "abandonadas pelo sistema": a jovem cega de 14 anos que mudou de estabelecimento de ensino e agora vai ter de percorrer todos os dias 20 quilómetros "desconhecidos" para chegar à escola. O menino que todos os dias chega ao pé dos colegas numa ambulância dos bombeiros porque não existe um carro adaptado para o transportar. Os alunos que não conseguem entrar na casa de banho porque a porta é demasiado pequena para passar a cadeira de rodas. Os estudantes impedidos de ir à biblioteca do primeiro andar, por falta de um elevador que transporte a cadeira de rodas.

"Estamos ainda na Idade Média", acusa Rosa Guimarães, lembrando que muitas crianças com deficiência "estão na escola, mas fazem uma vida totalmente à parte". Existem ainda os alunos "com problemas de aprendizagem, como os que têm dificuldades de linguagem que deixaram de ter apoio. Agora só as crianças com grandes dificuldades passam a ser acompanhadas", acusou Rosa Guimarães.

Fonte: Texto Lusa - Imagem da net

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