ENSINANDO CRIANÇA AUTISTA A LER A MENTE
Um guia prático
"HOWLIN, P.; COHEN, S.B.; HADWIN, J.; Teaching Children With Autism to Mind – Read - A Practical Guide, New York. John Wiley & Sons, 1999."
Neste texto, Baron-Cohen e col. apresentam uma nova forma de trabalho com crianças autistas. De acordo com essa proposta, com uma crianças autistas é mais importante desenvolver a interação social (déficit primário) que trabalhar prejuízos específicos como, ensinar se alimentar independentemente, ensinar atividade acadêmica etc. O texto a seguir procura, de forma simplificada apresentar as idéias gerais do trabalho original de Cohen e col.
HISTÓRICO DO AUTISMO
Inicialmente descrito por Kanner em 1943, o problema básico no autismo, seria um distúrbio congênito no comportamento afiliativo. Desde a proposta da síndrome de Kanner, nos anos cinqüenta, até a noção de síndrome autística nos anos noventa, a conceituação do autismo infantil evoluiu, porém, a classificação e o diagnóstico tem sido objeto de muita controvérsia. O distúrbio autístico instala-se antes dos 36 meses e se apresenta em um contínuo que vai de uma forma mais branda a uma forma mais acentuada, com múltiplas variações. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças – CID 10, o autismo infantil é um transtorno global do desenvolvimento caracterizado por: a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade de três anos, e b) apresentando uma perturbação característica do funcionamento em cada um dos três domínios seguintes: interações sociais, comunicação e comportamento. A desordem é crônica e acomete de 8 a 10 crianças em cada dez mil. Dois terços das crianças autistas permanecem gravemente incapacitadas, 75% dos autistas apresentam comportamentos típicos de deficiência mental, algumas crianças eventualmente podem levar vida independente apenas com sinais mínimos do autismo. Ocorre normalmente em 3 a 4 meninos para cada menina e cerca de 1/3 das crianças autistas desenvolvem convulsões em algum momento da vida.
INTRODUÇÃO
Na tentativa de procurar compreender os mecanismos envolvidos na sintomatologia do autismo, muitas teorias têm sido consideradas. FRITH, 1989 e BARON-COHEN 1984, tem como hipótese, que no autismo, existe um déficit na capacidade de construir "teorias da mente", um déficit na intersubjetividade, que dificultaria não só a compreensão da própria mente como também a compreensão da mente de outras pessoas. Esse déficit na capacidade de construir "teoria da mente" compreende, além de pouca mímica facial, uma aparente dificuldade em entender a mente de outras pessoas. Essas dificuldades na ‘interação social", geraria uma perda nos processos cognitivos do autista.
O QUE É A "TEORIA DA MENTE"
A "teoria da mente" procura explicar a habilidade que as pessoas têm de atribuir os estados mentais a si e aos outros ou seja, procura explicar como uma pessoa atribui a ela mesma e/ou a outras pessoas, as emoções, as crenças os desejos e as intenções/faz de conta. Vejamos alguns exemplos para melhor compreensão.
EMOÇÃO
As crianças normais de 3 anos, são capazes de entender os estados emocionais das outras pessoas, quando estes estados emocionais são causados por alguma situação externa. Ex. Alex não gosta de cachorro bravo. Quando Pedro,(uma criança normal de 3 anos) vê um cachorro bravo correndo atrás de Alex, é capaz de entender que Alex está com medo do cão.
CRENÇA
Por volta de 4 anos, a teoria da mente está melhor desenvolvida e a criança é capaz de "ler a mente" do outro também em situações que envolva uma falsa crença ou seja, crianças de 4 anos podem prever desejos e crenças. Por ex. Alex está esperando um livro de presente, recebe um embrulho mas percebe que alguma outra coisa, que não o livro, está no pacote. Rui que é uma criança normal de 4 anos, observando esta cena, é capaz de perceber o estado mental de Alex, (Alex está triste).
FAZ DE CONTA
Por volta de 5 anos, as crianças normais são capazes de entender outro estado emocional importante que é o faz de conta. Aqui, a criança é capaz de fingir brincar. Ex. Alex é capaz de brincar com uma banana como se fosse telefone, porém não têm dificuldade de reconhecer a real função de ambos os objetos. Isso é uma realização muito complexa.
"LEITURA DA MENTE" NO AUTISMO
Como vimos, esta habilidade de se entender e entender as outras pessoas, ocorre espontaneamente na infância. Um grande número de estudos mostram que, crianças com autismo têm dificuldades no raciocínio sobre os estados mentais e que esta dificuldade contribui para acentuar várias anormalidades que fazem parte de deficiências características da síndrome. No entanto, estes estudos consideram que, o grau de dificuldade para compreensão dos estados mentais vai depender do grau de comprometimento do autismo apresentado. As crianças menos comprometidas não apresentam habilidade para "leitura da mente" na modalidade "Faz de Conta", que é a mais complexa, mas podem apresentar "leitura da mente" na modalidade de "Crença" e "Emoção" que são menos complexas. Sabemos que existe uma estreita relação entre, o desenvolvimento cognitivo ( que é o processo de aquisição de novas habilidades) e a interação social. Sabemos também que, o comprometimento na capacidade para inferir estados mentais ( mentalização) que ocorre no autista, determina seu padrão de interação social, dificultando-o ou impossibilitando-o de prever o comportamento do outro.
LIMITAÇÕES DA ABORDAGEM TRADICIONAL NA INTERVENÇÃO
As intervenções realizadas dentro da abordagem tradicional, procuram trabalhar um prejuízo específico, ou seja, elegem algum comportamento inadequado que é priorizado para tratamento. Tomemos como exemplo uma criança autista que apresenta auto-agressividade, intervir no prejuízo específico significa intervir diretamente no comportamento de auto-agressividade. Segundo nossos autores o sucesso dessa intervenção é limitado porque ela daria a criança apenas o ganho em não apresentar mais aquele comportamento de auto agressividade. Seguindo esse raciocínio, melhor que tentar mudar comportamentos específicos, as intervenções nas crianças autistas devem priorizar o aperfeiçoamento do entendimento social ( que é a limitação básica desta população).
ENSINANDO CRIANÇA AUTISTA A "LER A MENTE"
O objetivo principal de BARON-COHEN e col. neste manual é "trabalhar" as incapacidades sociais e de comunicação (déficit primário) que são os principais itens que dificultam os processos da aquisição de novas habilidades. Este "trabalho" consiste em habilitar essas crianças a um melhor desempenho nas interações sociais de forma que seu melhor desempenho contribua na redução de problemas secundários. Falando de outra forma: existe no autismo uma incapacidade de atribuir estados mentais às pessoas e essa incapacidade gera vários comportamentos também inadequados e o trabalho terapêutico básico é de desenvolver a capacidade para a interação social, (ensinando literalmente a criança a "leitura da mente"). É importante ressaltar que, este treinamento é mais indicado para crianças com nível de comprometimento autístico de leve para moderado.
OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO ENSINAMENTO
Considerar a seqüência normal do desenvolvimento
: A seqüência de ensinamento é baseada no conhecimento prévio sobre o "desenvolvimento normal dos estados mentais" em pessoas normais. Sabe-se que a criança aos 3 anos, consegue atribuir estados mentais aos outros na modalidade da emoção, em seguida, aos 4 anos consegue na modalidade de desejos e crenças e, finalmente, aos 5 anos, consegue elaborar situações de faz de conta.
O ensinamento da "leitura da mente" é iniciado partindo do repertório apresentado ou seja, após avaliar o nível em que a criança se encontra e seguindo o processo do desenvolvimento normal. O ensinamento deve ser dividido em pequenos passos e de utilizar a repetição de tarefas. Observou-se que as tarefas não treinadas, mesmo quando semelhantes, são de aquisição limitadas ou seja, a generalização não ocorre com facilidade. Para superar a falha na generalização, é sugerido que ensinar os "conceitos". Os autores verificaram que:
Ensinar os conceitos é mais efetivo que passar simples "instrução",
Quando o ensinamento é feito no ambiente natural os resultados são mais eficientes, principalmente, quando são utilizados brincadeiras, computadores, gravuras e jogos.
Elogios e incentivos devem ser dados em todos os momentos.
Os comportamentos que são sistematicamente reforçados serão adquiridos mais rapidamente e mais provavelmente serão mantidos que os não reforçados deste modo.
Se são cometidos erros , a criança deve ser imediatamente corrigida.
É muito importante
evitar o aprendizado errado.
Para minimizar a complexidade das tarefas, o entendimento de estados mentais foi dividido em 3 modalidades separadas:
Entendimento de emoção dado uma situação externa.
Entendimento de emoções dado uma crença.
Entendimento de situações de "faz de conta".
Os conceitos foram ordenados em 5 níveis sucessivos de complexidade sendo o nível 1 o mais simples e o nível 5 o mais complexo. Exemplo desses estágios são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 – Os 5 níveis do ensinamento do estado mental
Emoção CrençaFaz de conta/Ficção
Nível 1Reconhecimento da fotografia facial (bravo/ com medo / feliz/ triste) Reconhecimento de perspectiva simplesJogo sensório-motor
Nível 2 Reconhecimento esquemático facial (bravo/ com medo / feliz/ triste)Reconhecimento de perspectiva complexaBrincadeira funcional
(< =2 exemplos)
Nível 3Emoções baseadas em situações (bravo/ com medo / feliz/ triste)Observação de pistas para entendimento (eu/ outro)Brincadeira funcional
(> 2 exemplos)
Nível 4Emoções baseadas em desejos (feliz /triste)Crença verdadeira/ predição de ação Fingir brincar
(<= 2 exemplos)
Nível 5Emoções baseadas em crenças (feliz /triste)Falsa crença fingir brincar
(> 2 exemplos
O trabalho é sempre realizado a partir de uma determinada modalidade (emoção, crença ou faz de conta) de acordo com o nível de desenvolvimento apresentado pela criança, percorrendo todos os níveis da modalidade trabalhada. Inicia-se avaliando pelo nível 1 da modalidade emoção, em seguida nível 2, 3, 4 e finalmente o 5 da modalidade emoção. Após avaliação e trabalho no nível 5 passa-se para a modalidade seguinte percorrendo sempre a seqüência dos níveis.
Vejamos alguns exemplos:
EMOÇÃO
Nível 1
Reconhecer expressões faciais ( emoções) em fotografias
Iniciamos pela avaliação do reconhecimento de emoções no outro. Primeiro vamos verificar se a criança é capaz de reconhecer, através de fotografia facial as expressões das quatro emoções: bravo, com medo, feliz e triste. Apresente as quatro fotografias para a criança.
Diga: Agora iremos olhar algumas rostos que nos mostram como as pessoas se sentem.
Pergunte: Pode me mostrar a rosto feliz?
Falando de outra forma: Mostre-me onde está a pessoa feliz.
Se a criança falhar ao reconhecer alguma das quatro emoções mostradas nas fotos, comece a ensinar a partir deste nível.
Procedimento de ensinamento
Pedir a criança para identificar as quatro fotos de expressões faciais de emoções bravo, com medo, feliz e triste.
O terapeuta primeiro coloca as fotos na mesa e nomeia as emoções mostradas em cada uma delas. Depois é pedido para fazer caras semelhantes às mostradas pelo ( terapeuta).
Vamos colocar a quatro rostos aqui. Essa é brava, com medo feliz, triste.
Eu tenho mais algumas rostos para você olhar. Você pode colocá-las junto com as que se parece com elas?
Esta é brava. Onde devemos colocar a rosto brava?
Sim, está certo. Esta é a rosto brava também! Etc.
Se a criança comete algum erro, ela é interrompida e a resposta correta é apresentada. Após a criança ter adquirido a habilidade para reconhecer emoções apresentadas nas fotografias passa-se para o nível seguinte de complexidade que é o reconhecimento das emoções através dos esquemas faciais/desenhos das rostos.
A seqüência de procedimento é a mesma.
Nível 2:
Reconhecimento de (Emoção) através de esquema/desenho facial
Inicialmente vamos avaliar se a criança tem capacidade para reconhecer as emoções: feliz, triste, bravo e com medo através dos desenhos/esquemas faciais. Apresente os quatro desenhos para a criança.
Diga: Agora iremos olhar alguns desenhos que nos mostram como as pessoas se sentem.
Pergunte: Pode me mostrar o desenho da rosto feliz?
Falando de outra forma: Mostre-me onde está o desenho da rosto feliz?
Se a criança falhar ao reconhecer alguma das quatro emoções mostradas nos desenhos/esquemas, comece a ensinar a partir deste nível.
Procedimento de ensinamento
Pedir a criança para identificar as quatro expressões de emoções (bravo/ com medo/ feliz/triste) trocando-as.
O terapeuta primeiro coloca os desenhos na mesa e nomeia as emoções mostradas em cada uma delas. Depois é pedido a criança para fazer caras semelhantes às apontadas pelo terapeuta.
Vamos colocar os quatro desenhos aqui. Essa é bravo, com medo, feliz, triste. Eu tenho mais algumas rostos para você olhar. Você pode colocá-las junto com as que se parece com elas?
Esta é feliz. Onde devemos colocar a rosto feliz?
Sim, está certo. Esta é a rosto feliz também! Etc.
Se a criança falha em reconhecer alguma das quatro emoções mostrada nos desenhos comece a ensinar a partir deste nível.
Nível 3
Identificando emoções baseadas em situações
Inicialmente vamos avaliar a capacidade que a criança tem de identificar emoções baseadas em situações. São emoções desencadeadas por situações ( ex.: medo quando um acidente está para acontecer). Neste nível a criança deve ser capaz de prever como a personagem se sentirá a partir da situação mostrada.
Apresente para a criança um cenário com as quatro rostos desenhadas. A criança precisa interpretar o contexto social e emocional da figura e prever com que expressão facial a personagem deve estar. As situações indicam braveza, com medo, feliz e triste. Algumas vezes existe a possibilidade de duas respostas plausíveis ( ex.: algumas histórias tristes podem também indicar uma resposta brava, neste caso, prevalece a interpretação do terapeuta.
Situação: Um cachorro grande corre atrás do menino.
Apresente a figura à criança.
Diga:
Veja, o cachorro está correndo atrás do menino.
Pergunta de emoção:
Como o menino se sentirá com o cachorro correndo atrás dele?
Ele se sentirá feliz, triste, bravo ou com medo?
Aponte para uma das rostos desenhadas.
Vamos ver como o menino se sente.
A criança pode apontar uma expressão.
Veja, o menino está com medo.
Pergunta justificativa:
Porque ele está com medo?
Pergunta justificativa: Tem como objetivo obter informações se a criança consegue explicar a razão daquele sentimento.
Se a criança errar a resposta de emoção e justificativa sem indução de qualquer das quatro histórias que você escolheu, comece a ensinar neste nível.
Os procedimentos de ensinamento, repetem os anteriores.
Para avaliar emoções baseadas em situações, pegue uma história de cada uma das emoções listadas a seguir (ex.: 4 em todos). Os exemplos seguintes ilustram como administrar as histórias.
Nível 4
Identificando Emoções baseadas em desejos
Estas são as emoções causadas pela satisfação ou não dos desejos de uma pessoa. Nesse nível a criança deve ser capaz de identificar os sentimentos da personagem (feliz ou triste) de acordo com a satisfação ou não do desejo.
Materiais e Procedimentos de avaliação
Algumas figuras mostrando expressões faciais e várias situações emocionais. A criança precisa interpretar um desejo, frente a um contexto social e prever a expressão emocional que a personagem deve estar. As situações indicam felicidade ou tristeza.
A avaliação de emoção baseada no desejo.
Para avaliar a capacidade de "ler a mente" de acordo com o desejo, apresentar situações onde é informado para a criança, qual o desejo do personagem, em seguida, qual a ação recebida. Apresentar situações onde a ação recebida, atende o desejo do personagem , e situações onde a ação recebida não atende o desejo do personagem. Depois de descrever as figuras da história pergunte à criança como o menino (personagem) se sente. Feliz ou triste?"
Desejo
Situação: O menino quer passear de trem.
Figura 1:
Veja. Esse é o menino. Esta figura mostra o que o menino quer. Ele quer passear de trem.
Figura 2: Veja o pai do menino. Ele levou o menino para passear de trem.
Pergunta:
O que o menino queria?
Orientação: Veja, isso nos fala o que ele quer. Aponte para o pequeno desenho de desejo que está dentro da figura 1.
O que o menino quer?
Pergunta de emoção:
Como o menino se sentirá quando o pai o levar para passear de trem. Você pode apontar para a expressão do menino?
Orientação: Ela se sentirá feliz ou triste? Aponte para
cada uma das rostos enquanto fala.
Me fale como o menino se sente.
Deixe a criança apontar a rosto correta.
Veja,
se não houver resposta ou a resposta for incorreta, proponha: O menino está feliz.
Pergunta do Porque
: Porque ele está feliz?
Se a criança falhar na previsão da emoção em uma ou mais histórias, das selecionadas, comece a ensinar nesse nível.
Procedimentos de ensinamento
Estas tarefas testam a habilidade da criança de prever o sentimento da personagem (feliz/triste) dependendo se o desejo foi realizado ou não. O terapeuta mostra à criança a cena na primeira figura (ilustra o que a personagem quer). Depois o terapeuta descreve a segunda figura (ilustra o que aconteceu). Em seguida o terapeuta pergunta o que a personagem quer, e como ele se sentirá, propondo as duas alternativas possíveis (feliz/triste). A criança aponta para a expressão. Se a resposta é correta o professor reforça a resposta e o entendimento da criança, perguntando: "Porque ele está feliz/triste" etc. Se a resposta for incorreta, a resposta correta é dada, assim como a razão para o sentimento.
Princípio geral de ensinamento
Se correto ou incorreto, a criança é sempre provida com o princípio geral de ensinamento sublinhando aquela emoção.
Quando você consegue algo você quer, você se sente feliz.
Se você não consegue o que você quer você se sente triste.
Nível 5
Identificando emoção, baseado em crença
.
Essas são emoções causadas pelo que alguém pensa que é a verdade, mesmo se, o que eles pensam, conflita com a realidade. É pedida a criança para seguir uma seqüência de três figuras e para prever a emoção que a personagem do desenho ira experimentar de acordo com o que elas acreditam que seus desejos foram ou não satisfeitos
Materiais e procedimentos de avaliação
Existem figuras para demonstrar cada uma das histórias de emoções baseadas em crenças. A primeira figura mostra a realidade da situação. A segunda figura mostra a personagem, e duas figura menores que demonstram o que a personagem quer ( desejo) e o que ela pensa que vai conseguir (crença). A figura final mostra o resultado do acontecimento. Tendo em vista o resultado do acontecimento, dois desenhos/esquemas de rostos são usadas para a criança apontar a expressão que indica a emoção do personagem, frente a situação do acontecimento. As expressões indicam felicidade ou tristeza.
ENSINANDO SOBRE ESTADOS INFORMACIONAIS
Os autores propõem também, ensinar os estados informais que incluem a percepção, o conhecimento e a crença. Estes ensinamentos são também divididos em 5 níveis conforme descrevemos abaixo.
Nível 1, perspectivas visuais simples:
Esse é o entendimento que, pessoas diferentes podem, em perspectivas diferentes, ver coisas diferentes. Nesse nível, a criança deve julgar o que o terapeuta pode ver e o que não pode ver.
Materiais e procedimentos de avaliação:
Cartões com figuras diferentes.
Pegue dois cartões com figuras diferentes e coloque entre o terapeuta e a criança de forma que uma figura fique de frente para a criança e a outra de frente para o terapeuta.
Questão da própria percepção:
"O que você pode ver?"
Questão da percepção do outro:
"O que eu consigo ver?"
Para a pergunta da própria percepção a criança deve simplesmente dizer qual o objeto na sua frente. Para a pergunta da percepção do outro a resposta correta, é claro, deve referir a figura do lado do cartão em que está o terapeuta.
Exemplo:
Pegue um cartão (ex. bolo/bule) entre você e a criança
Pergunta da própria percepção: "O que você vê?"
Pergunta da percepção do outro
: "O que eu posso ver?" (lembre-se de variar a ordem de eu/você)
Ensinando:
Pergunta da percepção do outro: Para uma resposta incorreta:
Você pode ver um bolo, não pode? O bolo está no seu lado do cartão.
Aponte para a figura do lado da criança.
Mas veja! O que está no meu lado do cartão? O que eu posso ver?
Mostre à criança o outro lado do cartão.
Certo. Eu vejo o bule.
Vire o cartão de modo que a criança veja o bolo de novo.
Eu não posso ver o bolo, só você pode ver o bolo.
Se a resposta for correta o terapeuta reforça a criança, se a resposta for incorreta, a resposta correta é ensinada assim com o princípio geral do ensinamento.
Pessoas nem sempre vêem as mesmas coisas, e o que elas vêem
dependerá de sua posição, etc.
Se a criança falhar nos testes, comece a ensinar deste nível.
Nível 2
Entendimento de perspectivas visuais complexas
Este nível envolve o entendimento não apenas do que a pessoa vê mas de com isso aparece para elas.
Materiais e procedimentos
Selecione algumas figuras que são de interesse para a criança. Coloque um cartão com a figura entre o terapeuta e a criança de forma que, a figura aparece em pé para a criança e de cabeça para baixo para o terapeuta. Ex. sendo a figura a de um elefante, o elefante aparece de cabeça para cima para a criança e de cabeça para baixo para o terapeuta.
O terapeuta pergunta para a criança:
Pergunta da percepção do outro:
"Quando eu olho para a figura, está [o elefante] em pé, ou de cabeça para baixo?"
Procedimento de ensinamento:
O terapeuta pergunta à criança sobre a posição de um objeto que cada um vê de uma forma:
Exemplo: Coloque o cartão (ex. Mikey Mouse) na mesa entre a criança e o terapeuta, de modo que o objeto apareça de uma forma para um e de outra forma para o outro. Depois pergunte à criança:
Pergunta da percepção do outro: "Quando eu olho nesta figura, está o Mikey de pé, ou de cabeça para baixo?" (varie a ordem da escolha).
Ensinando
Questão da percepção do outro: (para uma resposta incorreta)
Veja, quando você olha para o Mikey, ele está de pé. Mas quando eu olho para o Mikey ele está de cabeça para baixo. Veja o que acontece quando eu viro o cartão ao contrário.
Vire o cartão de modo que o Mikey fique de cabeça para baixo para a criança e para você ele fique de pé.
Agora quando eu olho para o Mikey ele está de pé, mas quando você olha ele está de cabeça para baixo.
Outro método de ensinamento que pode ser utilizado é manter a figura na mesma posição e a criança e o terapeuta trocarem de lugar para a criança ver as diferentes perspectivas.
Se a resposta for correta o professor reforça o entendimento da criança perguntando "porque", se a resposta for incorreta, a resposta correta é dada, assim como o principio geral do ensinamento.
Pessoas podem ver a mesma coisa de diferentes formas.
Se a criança falhar nos testes, comece a ensinar deste nível.
Nível 3
Entendendo o princípio que "ver leva ao saber".
Este nível testa a habilidade de entendimento da criança que pessoas só sabem "das coisas", que elas tiveram experiência (direta ou indiretamente).
Materiais e procedimentos de avaliação:
Caixas, boneca ou marionete, objetos diferentes apenas em tamanho, outros em cor etc.
A avaliação do nível 3 deve incluir um exemplo de cada uma das seções e mais um exemplo adicional..
Vamos brincar de um jogo de esconder com estas caixas.
Veja esses lápis. Esse lápis é grande e esse lápis é pequeno.
Eu vou esconder um dos lápis nesta caixa. Você pode fechar os seus olhos para não ver qual eu coloquei dentro dela?
Coloque o lápis grande na caixa.
Pergunta de conhecimento
: Você sabe qual lápis está na caixa? [não]
Pergunta justificativa
: "Porque você não sabe qual lápis está na caixa?" [Porque eu não vi, etc.]
Procedimento de ensinamento:
O terapeuta esconde o objeto, de modo que a criança não possa ver, depois pergunta à criança, a respeito do objeto. Se a resposta for incorreta, a resposta correta é dada, assim como o princípio geral do ensinamento.
Pessoas apenas sabem de coisas que ela viram. Se elas não podem ver algo, então elas não sabem sobre aquilo.
Nível 4
Prevendo ações com base no conhecimento das pessoas
Este nível testa o entendimento da criança de que, as pessoas podem Ter crenças verdadeira. Neste nível, é pedido às crianças para prever ações com base em onde uma pessoa acredita que um objeto está.
Materiais e procedimentos de avaliação: uma casinha de brinquedo, quarto, locais para colocar objetos.
Exemplo: Vamos jogar com esta casa e João.
Veja, tem uma bola na cama e tem uma bola na mesa.
Aqui está João, esta manhã João viu a bola na cama. João não viu a bola na mesa.
Aponte apropriadamente.
Questão de ação
: Onde João vai procurar a bola?
Pergunta Justificativa
: Porque ele pensa que ela está na cama?
Pergunta de verificação
: Onde João viu a bola?
Ensinando
Pergunta de ensinamento: Para uma resposta incorreta.
Lembre-se, João viu a bola na cama, então João procurará a bola na cama.
João não viu a bola na mesa, então ele não olhará lá.
Se a resposta estiver correta o terapeuta reforça a criança e conduzirá ao entendimento perguntando "porque"?
Se a resposta for correta ou incorreta, a criança é sempre lembrada do princípio geral do ensinamento sublinhando a crença:
Pessoas pensam que as coisas estão onde eles as viram. Se eles não viram então eles não saberão que elas estarão lá.
Nível 5
Entendendo falsas crenças
Nesse nível, devemos avaliar a habilidade da criança entender que pessoas podem adquirir falsas crenças.
Materiais e procedimentos de avaliação: uma casinha de bonecas com mesa, marionetes, armários, bolas, etc.
Vamos brincar com Maria.
Veja, Maria tem uma moeda.
Aqui estão dois porta níqueis, um preto e um vermelho.
Maria pôs sua moeda no preto.
Maria está saindo para brincar agora.
Maria sai do quarto.
Maria saiu. Ela não pode ver o que estamos fazendo.
Vamos fazer uma brincadeira com Maria? Iremos tirar a moeda da bolsa preta e colocá-la na verde.
Pergunta de crença
: Aqui está Maria de volta do parquinho. Onde ela acha que a moeda está? (na bolsa preta)
Pergunta Justificativa:
Porque Maria pensa que a moeda está na bolsa (preta)?
Se a resposta estiver correta o terapeuta reforça a criança e conduzirá ao entendimento perguntando "porque"?
Se a resposta for correta ou incorreta, a criança é sempre lembrada do princípio geral do ensinamento sublinhando o princípio geral do ensinamento:
Se a pessoa não sabe que coisas mudaram então elas pensarão que elas continuam do mesmo modo.
Os autores constatam que mudanças significativas foram encontradas. Depois de um breve período de treinamento, mudanças significativas ocorreram nas áreas específicas que foram selecionadas. Esses aperfeiçoamentos foram mantidos um bom tempo depois do fim da intervenção. Acredita-se que um maior período de treinamento, junto com as famílias e professores, podem realçar a eficácia dos métodos usados.
Tradutora / Autora do texto:
Maria Isabel Pinheiro
Professora do Departamento de Psicologia – Universidade Federal da UFMG
Ano: 2000
BIBLIOGRAFIA
HOWLIN, P.; COHEN, S.B.; HADWIN, J.; Teaching Children With Ausism to Mind – Read - A Practical Guide, New YorkJohn Wiley & Sons, 1999.
COHEN, S. B.; Mindblindness, Massachusetts Institute of Technology, Third printing, 1996.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
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