Não existe cura para autismo. Nem nos EUA, nem em lugar nenhum do mundo. Autistas, não precisam ser curados, precisam ser respeitados. O que precisamos é oferecer dignidade, habilitação e reabilitação para uma vida independente, com o máximo de autonomia possível.
Na verdade, o autismo não existe. O que se faz, na tentativa de se negar o autista que é real e que está lá, é caçar um fantasma que supostamente tomou conta das nossas crianças “normais”, o tal do autismo.
Quem existe são autistas que sofrem pela negação por parte de pais e profissionais, que não são aceitos nas escolas e que não têm instituições que os apoiem na inclusão, que pagam caro por não cumprir as expectativas de uma sociedade, ou de uma família que esperava um filho "padrão", ou “normal”.
Neste sentido, a busca da cura do autismo é vã, deletéria e, muitas vezes, prejudicial quando colabora para aumentar o preconceito que afasta mais ainda o autista da aceitação por parte da sua família e da sociedade, dos seus direitos fundamentais e da sua dignidade inerente.
Precisamos sim, de mais profissionais especializados em incluir o autista na comunidade, na escola, na sociedade. Precisamos de mais centros preparados para o diagnóstico, a habilitação e reabilitação do autista - isto não deve significar centros de segregação de autistas, ou residências fora da comunidade, mas centros que apoiem os autistas para uma vida independente. Precisamos de pesquisas para entender melhor o autista, para construir e oferecer técnicas de comunicação alternativa e para ajudá-los a regular melhor o seu comportamento.
Nada do que é necessário é justificativa para se coisificar o autista, para se tratar o autista como um ser humano menor, alguém doente que precisa de tratamento pelo simples facto de ser o que é.
Autistas precisam de tratamento para a gripe, para a depressão, para as convulsões, para o bicho-de-pé, para uma série de coisas, igual a toda a gente, inclusive compulsões nocivas como bater demais, jogar demais, beber demais, comprar demais, falar palavrões demais, partir coisas demais.
O autismo em si não se trata, já que não existe, e o autista não pode ser tratado dele mesmo. Quem vai sobrar depois desse tratamento? A pessoa que deveria existir e que também nunca existiu por conta do fantasma do autismo?
Tratar o autismo significa tornar o autista mais "sociável"? Então, sugiro que se mude esse ponto de vista.
O que deve ser oferecido para o autista é a oportunidade de uma maior participação, contacto social, de construção da sua vida com maior independência possível, com o apoio da família e dos seus pares. Isto não significa tratar o autista ou autismo, nem buscar a cura. Isto é habilitação e reabilitação.
Durante muitos anos, e até hoje em dia, o discurso que se aplica é que o autismo é uma bomba que destrói famílias. É fácil dizer que o autista não se coloca no lugar do outro, difícil é se colocar no lugar do autista.
Nós, autistas e familiares, precisamos pensar em respeito às diferenças, dignidade e acolhimento. Promover o respeito, a inclusão e fazer mudar o que se pensa e o que se diz sobre o autismo e os autistas.
Até logo,
Alexandre Mapurunga
(Irmão do Pablo e Giordano e, também, do Biel, Tetê, Gustavo e da Natália
Pai da Allana e, também, da Júlia, Mariana e da Larissa).
inclusaoediversidade.blogspot.com
www.twitter.com/amapurunga
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2 comentários:
Olá li e reli este texto com atenção. Dá que pensar e em muitas situações aplica-se, mas não em todas. Eu por exemplo luto por melhorar as aptidões do meu filho autista, com 7 anos ("bom funcionamento"). De resto amo exactamente como ele é. Consigo ver claramente a pessoa que existe nele, porque ele mostra-a com facilidade. Para mim o autismo dele é de facto uma dificuldade e existe de facto, mas que iremos juntos e com a sua vontade contornando o melhor possivel, sem ideias de curas milagrosas porque não pretendemos curá-lo apenas que consiga compreender melhor o meio onde nos movimentamos - o nosso objectivo é o de todos os pais: que seja feliz!
No entanto, existem casos de autismo que não consigo ver dessa forma... a questão é também a de um nome de uma problemática que engloba um espectro demasiado grande com tremendas variações, onde cada pessoa tem determinadas características (e não todas) em distintos graus de gravidade, a ainda assim o nome é o mesmo, e os conhecimentos são poucos. Cada pessoa com autismo (ou autista para quem preferir), é única e diferente dos demais, com a mesma situação.
O que falta ao ser humano no geral é a anulação de qualquer tipo de descriminação negativa dirigido ao seu semelhante - devemos aceitar cada pessoa como é, independentemente de tudo - sexo, cor, raça, religião, diferença, doenças, etç... e esse parece-me um problema global da humanidade, não só dirigido a autistas (embora se verifique bastante no autismo). Vamos ter esperança que a evolução humana vá ocorrendo nas mentalidades, mesmo que muitooooo lentamente... vamos também nós pais lutando para ajudar a atingir este objecto, aceitando os nossos filhos de coração, proporcionando-lhe, no entanto, os apoios disponiveis que existam e que possam melhorar-lhes a qualidade de vida, conforme as necessidades de cada um deles... e as necessidades serão diferentes porque ser autista, não é um conjunto de pessoas todas iguais como a palavra universal que os identifica.
Bom ano
O AUTISMO EXISTE. Existe sim senhor. Mas há pessoas que não conseguem ver o autismo nem o autista. Só conseguem viver em torno de associações disto e daquilo. Interessam as pessoas e não as associações. Aqueles que se curvam perante as associações jamais viverão os seus filhos. Conviver com gente que abdicou dos filhos e os colocou ainda cedo em associações?? Não, obrigado!
Nicole
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