domingo, 31 de agosto de 2008

Pirralhos, mal educados???? - Boa reacção da comunidade Autista

Radialista: autistas são pirralhos que não se comportam
Jacques Steinberg


Michael Savage, o polêmico radialista que na semana passada afirmou que praticamente todas as crianças autistas são "pirralhos que não foram ensinados a se comportar", disse em entrevista telefônica na segunda-feira que sustentava sua declaração e não tinha intenção de se desculpar com defensores e pais de crianças autistas que exigem a sua demissão devido ao incidente.
"Meu ponto de vista continua sendo verdadeiro", disse Savage, cuja audiência é menor apenas do que as de Rush Limbaugh e Sean Hannity, em entrevista.

"Essa é uma condição médica com diagnósticos demais. Para mim, não existe um diagnóstico definitivo para o autismo." Em 16 de julho, Savage insinuou em seu programa que "99% dos casos" de autismo resultavam de criação negligente.

Ele disse aos ouvintes: "Eles não têm um pai que lhes diga 'não aja como um idiota. Assim você não vai conseguir nada na vida'". Segundo o radialista, entre as advertências que as crianças com autismo deveriam ouvir estão: "Endireite-se. Aja como homem. Não fique aí sentado, chorando e berrando, seu idiota".

Quando lhe perguntaram na segunda-feira se ele de fato acreditava que 99 em cada 100 crianças autistas haviam recebido diagnóstico errado, Savage admitiu que o número era "um pouco alto".

Ele complementou: "Foi uma hipérbole". Mas o radialista afirmou estar orgulhoso de ter estimulado a discussão sobre o assunto e planeja dedicar seu programa inteiro na segunda-feira - transmitido ao vivo do norte da Califórnia das 15h às 18h, horário da Costa Oeste - aos pais e outros ouvintes que ligarem discordando dele e desejando instruí-lo.

Embora o programa de Savage seja transmitido por mais de 350 estações de rádio americanas, seus comentários sobre autismo se espalharam na sexta-feira através de um e-mail enviado pela Media Matters for America, um grupo de apoio que se dedica parcialmente a "corrigir informações conservadoras equivocadas na mídia".

Alguns críticos não quiseram esperar até o programa de Savage, chamado The Savage Nation, para expressar sua divergência com o radialista.

Na cidade de Nova York, a Autism United, uma coligação de organizações de apoio às crianças autistas, fez um protesto na segunda-feira em frente aos estúdios da WOR (710 AM), que transmite o programa de Savage de segunda à sexta, das 18h às 21h, horário da Costa Leste.

"Ele caracteriza as crianças que sofrem dos casos mais graves de autismo - crianças deficientes - como sendo pirralhos malcriados cujo único defeito é ter pais que não os disciplinam", disse John Gilmore, diretor-executivo da Autism United e pai de um menino de oito anos diagnosticado com autismo.

"Isso é uma representação totalmente equivocada do que acontece com as crianças autistas. Basicamente, o que ele faz é reproduzir o que costumava ser dito sobre o autismo há 40 anos, no apogeu da análise freudiana", Gilmore complementou.

"Costumava-se culpar a má criação dos pais. Não há nenhuma evidência que sustente isso." Paul Siebold, porta-voz da WOR, disse em declaração por e-mail: "As opiniões exprimidas por Michael Savage são dele e não da rádio WOR. Lamentamos qualquer consternação que os seus comentários possam ter causado aos ouvintes".

Mark Masters, executivo-chefe do Talk Radio Network, que detém os direitos de transmissão do programa de Savage e estendeu seu contrato até fevereiro, não respondeu às diversas mensagens deixadas em seu escritório na segunda de manhã.

Catherine Lord, especialista em autismo e professora convidada do centro de estudos infantis da Universidade de Nova York, disse que por trás do polêmico argumento de Savage há um fundo de verdade: algumas crianças recebem um diagnóstico de autismo por tabela, quando não se encaixam em nenhuma outra categoria.

Mas com muito mais freqüência, crianças com autismo recebem outro diagnóstico. Ela também disse temer que os comentários desinformados de Savage possam ser nocivos.

"Qualquer tendência de culpar a criança ou acreditar que ela só está sendo malcriada perpetua o mito de que o autismo não é uma deficiência de aprendizado. É uma condição neurobiológica, como a epilepsia ou qualquer outra condição médica como diabetes e problemas cardíacos. É como culpar uma criança com problemas cardíacos por não conseguir se exercitar."

23JUL08 - The New York Times - Tradução para português do Brasil: Amy Traduções - In noticias.terra.com.br

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